quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A vida secreta de Walter Mitty





Tomo muito cuidado para sempre tentar não interpretar um diretor através de sua obra. É injusto, tentar interpretar um único sujeito a partir de um resultado que contou com a colaboração de dezenas, as vezes centenas, de pessoas. Mas Ben Stiller parece dar a cara tapa em "a vida secreta de Walter Minty". Se fosse arriscar diria que Stiller é astro há tanto tempo que se esqueceu como são as pessoas de verdade. Já que seu filme parece ser sobre pessoas reais que ele leu em algum artigo do tipo "como vivem os "outros"" de alguma revista da alta sociedade de Bervely Hills.

Tecnicamente falando Stiller é um bom diretor, como já havia demonstrado em Zoolander e Trovão Tropical. Sabe posicionar a câmera, tem domínio da linguagem, sabe filmar uma cena e estruturar uma narrativa. Infelizmente isso só reforça a certeza de que os problemas maiores do filme são consequência da falta de sensibilidade e profundidade do cineasta.

Para um filme cujo um dos temas parece ser o encontro de uma pessoa com o mundo fora de si mesmo, ele tropeça ao apresentar personagens demasiadamente caricatos, que parecem ter saído das antigas comédias-deboche de Stiller. O gerente que se torna o antagonista de Walter é um exemplo claro de um personagem unidimensional e caricato, assim como sua irmã que nunca parece ter função nenhuma na trama.

Outro ponto enervante da narrativa é o peso dado ao interesse amoroso do personagem, transmitindo a velha máxima Hollywoodiana que a felicidade só é possível e completa através do amor do outro. E pior que usar o cliche do amor escondido é mostrar para plateia que que os sentimentos secretos do protagonista são também secretamente correspondidos. Isso em dez minutos de projeção! O final até que encena uma pequena reviravolta que poderia confere rir algum peso a narrativa. Mas como sempre é apenas um engano na interpretação dos fatos pelo personagem e as coisas seguem seu rumo definido desde o início.

É impossível não perceber na transição/metamorfose no personagem uma metáfora que Ben Stiller tenta fazer sobre sí mesmo. A de transformar junto ao público seu personagem comum das telas em algo diferente e com camadas mais profundas. No entanto ele fracassa miseravelmente.

Com uma bela fotografia que aproveita as belíssimas paisagens das viagens de Walter o filme demonstra ser exatamente isso: algo belo de se olhar e vazio por dentro. Infelizmente é o tipo de filme que vai com certeza encontrar seu público. Não faltam pessoas que acreditam que a vida é, ou deve ser, exatamente como mostrada nas lentes de Stiller.


Nenhum comentário:

Postar um comentário