sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dexter: um psicopata possível?

Quando estou escrevendo isso a sétima temporada de Dexter se encontra no seu quarto episódio, e descendo ladeira abaixo...e resolvi aproveitar para escrever um pouco sobre aquele que já foi um dos meus seriados favoritos. Afinal, apesar de se chamar pensando em cinema a intenção deste blog é abranger tudo dentro desta minha área de interesses.

Eu tive sério problemas com Dexter no início simplesmente porque eu não conseguia aceitar a ideia de um psicopata que fosse herói. Não por questões morais mas simplesmente porque em termos de funcionamento psíquico a coisa simplesmente não se encaixa.

O melhor exemplo disso é figura do fantasminha do pai que aparece como uma espécie de conselheiro-superego. Bom, o fato fundamental para você ser um psicopata é justamente não ter superego ou qualquer instância reguladora. Se o fantasminha do pai é tão eficiente assim para conseguir guia-lo porque não fez deixar de matar. O monstro ali é ele, que criou um filho para fazer o que ele sempre teve vontade de fazer.

Outro problema era aquele trauma na infância, que teria sido responsável pela "sede de sangue" do personagem. O que também não faz sentido nenhum já que a psicopatia é muito mais uma questão estrutural do que traumática. Nos livros esse trauma seria o responsável pelo "passageiro negro" se grudar em Dexter e lá é uma entidade espiritual mesmo, com sede de sangue e conhecimentos sobre o assunto. Por mais maluca que seja essa explicação ela faz mais sentido do que a do seriado.

Pelo menos os comportamentos e sentimentos de Dexter faziam mais sentido, embora a lôgica da sua estrutura psíquica não. Mas lá pelos meados da segunda temporada o personagem começa a fazer sexo. E a gostar da coisa. Parece natural, certo? Não se você é um psicopata. Os assassinos de assinatura, o tipo que Dexter demonstra claramente ser (rituais, coleção de plaquinhas de sangue) são chamados pelo FBI de "criminosos sexuais". E isso demonstra que também os especialista do FBI, e não apenas os freudianos obcecados por sexo, entendem que os rituais destes assassinos são uma forma de "trabalho sexual". Ou seja, os conflitos destes assassinos tem origem sexual. Se existe sexo, não existe conflito e não existe assassino.

E foi a partir deste momento que eu meio que chutei o balde em relação a série. Parei de pedir coerência técnica e procurei apenas me divertir com o que estava me assistindo. E com isso passei a apreciar muito a série pelo que ela é do que esperar que ela seja outra coisa.

E minha conclusão é que dexter tem muito mais da jornada do herói de Joseph Campbell do que um psicopata. Nas temporadas que acompanhamos até agora vemos o protagonista na sua jornada de tentar se tornar humano, tentar se tornar um pai, perguntar o que é o amor, se tem sentimentos e qual o caminho correto a seguir. O sangue é apenas uma alegoria, uma brincadeira que muitos fãs entendem (ainda que inconsciente) do que muitos críticos.

A série pode ter chamado a atenção por brincar com o desejo neurótico de burlar as leis e fazer o que quiser, mas é humanidade do personagem que nos prende a ela.

Agora é rezar por u m final digno e que os produtores atuais não a estraguem....


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